"Eu sou o único espectador desta rua; / se a deixasse de ver, ela morreria". Borges
Esse fragmento de Borges, citado em Das Ruas de Paris aos Arrabaldes de Buenos Aires - Poesia, Cidade e Baudelaire e Borges, artigo de Franklin Alves ( Poeta e ensaísta carioca, autor do livro de poemas Céu Vermelho, inédito), me fez pensar: que cidade cada um de nós vê?
Para mim a cidade são os sons, os ruídos, as fotografias amarelecidas que nos fazem imaginar fora do enquadramento. Também as lembranças dos lugares que trilhamos (dos matinés, o pipoqueiro, a sapataria que ia fazer compras com meu pai, a confeitaria e seus quindins, etc. etc.), o silêncio dos domingos e do amanhecer, as histórias que nos contam, os detalhes das fachadas, as ruínas, o calçamento, os ladrilhos, o gasto das passadas (Não cheguei a tempo de fotografar um cantinho de calçada na Praça Tamandaré que gasto, trazia a marca de muitos passantes... ).
Que cidade vemos? É importante pensar sobre, pois nossas respostas apontam para a questão imprescindível - que cidade queremos.
Se a deixasse de ver, ela morreria... Nosso pertencimento à cidade se dá quando nossas memórias se tramam pelos seus diferentes lugares. Quando nos levam a relembrar e nos fazem imaginar momentos vividos. Quando como passantes nos enxergamos em seus detalhes, em seus traçados. Desprendida de lembranças não mais a reconheceria, para mim morreria.
Reflexões sobre a cidade em que nasci.
Célia Pereira